terça-feira, 27 de abril de 2010


Vesti de preto a minha vida
Pintei o olhar com lágrimas de cal
Transformei a chuva em tempestade
Transfigurei a brisa em vendaval
Vendi os sonhos que não tinha
Fechei as portas à ilusão
Regressei de uma vida que não era minha
Fiz emigrar o coração
Embrulhei os sentimentos
Pisei espinhos em terra dura
Vi crescerem os sofrimentos
Despi a farda da aventura
Rasguei as páginas deste caderno
Escrevi palavras sem som nem cor
Voltei em dias de puro inverno
Senti que sem ti não tenho amor

Sentei-me à espera do tempo
Ele nunca chegou
Chegaram os nevoeiros da vida
O amor, a dor, a ferida que se soltou
Olhei-te do alto da esperança
Onde nada esperava ver
Percebi que o tempo também cansa
Como o coração a bater
Bebi um trago do teu copo
Onde o tempo vi passar
Deixaste a sede na alma
Por o teu tempo estranhar
Parei cada segundo com suavidade
E lavando os olhos eu vi
Vi então que sem amizade
De nada valeu o que senti
Regressei aos degraus da existência
Nada tinha acontecido
Li apenas páginas em branco
Do que escrevi nada tinha existido
Decidi ausentar-me de tudo
O meu corpo em nada ficou
Olhei em redor e fugi da vida
Para trás nada mudou.

Poema feito a duas mãos (José Luís e Adão Teles) – porque a própria vida não se faz sozinha, porque a luz não surge do nada, porque a amizade é o sentimento mais forte que move os seres humanos em busca daquilo que se chama felicidade, porque o sentido de tudo é a própria simplicidade!
Há a dança de um cigarro
Que no fumo se destrói
e se desfaz
fumo vida
por que não te agarro
por que é que o teu tempo dói?
Há o sabor de um desespero
Que do cigarro se alimenta
e se lamenta
tempo morte
por que trocas as voltas à sorte?
Há a chama que se move
E que o brilho dos teus olhos comove
e chora
brilho ardor
por que espalhas dor
Neste tempo que foge à hora?
Há a efemeridade de um sopro
Que do fundo da alma vem
e fica a falecer
neste tempo sem o querer
por que afastas a luz da vida
sentindo a vida a morrer!

segunda-feira, 26 de abril de 2010


Choram os meus olhos vento
Canta a minha voz sem parar
Não
Não quero mais sofrimento
Não quero a neve do teu lamento
Quero o vento do meu olhar.
Bailam os meus dedos sozinhos
Bate o tempo que não tem lar
Não
Não quero revoltas, quero carinhos
Não quero as aves viúvas de ninhos
Quero os meus dedos no meu bailar.
Ardem os meus segredos na vida
Vivem árvores neste caminhar
Não
Não quero a beleza despida
Não quero a tua alma retida
Quero os meus segredos no meu mar.
Escrevem os meus sonhos poesia
Caminha o meu coração sem aqui estar
Não
Não quero que fiques por este dia
Não me quero perfumar de nostalgia.
Quero partir e já não voltar.