sexta-feira, 15 de outubro de 2010

ETERNIDADE

Era Primavera
E as magnólias vestiam-se de ternura
Havia cheiro de canela na tua presença
E sombras de danças no teu caminhar
Ao longe
Rodopiavas-te
E abraçavas a minha forma de loucura
Porque dizias
Que o meu juízo tinha sido feito para te embriagar
Estendias o brilho dos teus olhos
Pelas ruas que percorrias
E mesmo sem ver a tua face
Sei que sorrias
Trazias os brinquedos da infância na mão direita
E eu, sem qualquer suspeita,
Acreditava que eram para mim
Os sinos tocaram só para os teus passos
E no vestido que desenhava o teu corpo
Estavam desenhados tantos laços
Que o teu corpo parecia não ter fim
Na tua outra mão trazias um cravo
Da cor da nossa liberdade –
Vermelho, como os de abril
Lançaste-o ao ar
E ele coloriu toda a cidade
Gristaste o teu nome
E a multidão, assustada, veio às janelas
Às portas
Para o meio da rua
E formou uma fila brilhante e sadia
Beijaste o céu
E nele escreveste o meu nome
Mas depois, aos poucos, viste-me morrer
Depositaste as magnólias, os brinquedos e o cravo da liberdade
Sobre o meu peito
O meu ser começava a ficar desfeito
Mas aprendeste o meu nome
Eternidade.