domingo, 25 de julho de 2010

Tumulto em mim

Vim do tempo dos sorrisos
Da infância recuperada
Os meus olhos já não são precisos
Tenho na memória a vida guardada

Tenho água escorrendo entre os dedos
E os dedos já não são meus
Guardei longe todos os meus segredos
Fui ave em sonhos
Subi aos céus

Sou menino indefeso sem orientação
Criança inquieta de alma despida
Falo com as vozes do coração
São os sonhos a minha salvação
De noite revejo as imagens da vida

A lua cheia de vagas sonhadoras
Traz-me à memória histórias contadas
Em tempos idos
Em manhãs passadas
São momentos apenas vividos
São agora transparências resgatadas

Volto quando não quero
Ao país da ilusão
Vou com a chuva
Sou primavera
Campo verdejante nas noites de verão

Regresso em sonhos
Ao tempo da felicidade inteira
Das palavras obscuras
Ou simplesmente escondidas
Beijo os silêncios das minhas ternuras
E peço à minha voz
Que me devolva as cores outrora desaparecidas

Sou máquina parada
Sou ser pensante ou pequeno deus dormindo
Nas asas da memória
Revejo as margens da alegria adiada
E das sombras que dançam
Corro fugindo

Não sei do tempo
Não sei o que fiz nas manhãs incertas
Ausentei-me de tudo
Sou choro incerto
Abraço mudo
Transformei as lágrimas em ondas descobertas

Quero voltar a ser navio
Ou simples gaivota
Num mar sempre azul ou das cores que não entendo
Mas que quero sempre ver
Serei de novo livre
Se as memórias dormirem
Ou se o tempo pretérito desaparecer




Corpo que invento

Deixo que os nossos tempos se toquem
Aqui de madrugada meu amor
Deixo ainda que os nossos olhos permaneçam assim
Fechados para o mundo
Abertos para o nosso interior

Deixo que os nossos risos se confundam
E que partilhem o sabor húmido de um mar revolto
De um jeito luminoso
Nas nossas peles há o sal da praia onde não fomos
E o suave brilho deste nosso jeito
Carinhoso

Deixo que o tempo se esqueça de avançar
Mesmo sabendo que não o paramos
Mesmo sabendo que a terra se agita
Enlacemos de novo os corpos
Para que a nossa vontade gema
Quando em gemidos grita

Deixo que os nossos cabelos se entrelacem
E façam fios da cor inventada em cada movimento
São fios dourados
De amor desenhados
De poesia pura que para ti invento

Deixo que as nossas bocas segredem
Tudo o que só nós conseguimos ouvir
São segredos escondidos
Feitos de sonhos percorridos
Nas margens do rio para onde queremos sempre fugir


Deixo que a brancura do tempo cegue a escuridão do nosso passado
Fiquemos assim
Inquietos
Loucos mas felizes
De tudo capazes mesmo sem o saber
E sempre que a vontade de ausência venha
Estaremos prontos para o que a vida quiser

Deixo que os meus dedos toquem suaves nos lábios que beijo
E eles trazem para o meu corpo
A vontade que tens
De em mim viver

Deixo que acorde de noite sozinho
Nesta cama larga onde sempre me movimento
Deixo que as paredes tenham sombras
E que o meu corpo tenha o cheiro
Do teu corpo
Que agora invento