sábado, 22 de maio de 2010


ENTRE AS MARGENS

A forma como falas
O modo como desenhas o tempo
A vertigem que inseres no grito das ondas
É a magia da própria vida
Nada mais quero
Nada mais desejo
Nada mais ambiciono
Se és tudo no tempo que já não existe
Porque insistes em fazer parte do meu tempo
O aroma que difundes quando caminhas
A melodia que transportas nos teus lábios
A dança que inventas quando te deitas
É todo o sentir da própria existência
Nada mais sonho
Nada mais pretendo
Nada mais invejo
Se as tuas formas femininas me preenchem
Deixa-me guardar o teu nome para sempre
Aqui e onde eu estiver
Rio Tejo



TEMPLO DE NENÚFARES

Voltei ao templo dos nenúfares
Voltei às águas dançantes
E nos ventos ignorantes
Encontrei anéis feitos de raios de sol
Mas o que buscava era o teu rosto
O teu sorriso de abril
O teu mar de malmequeres
O teu corpo à medida da minha pele
Porém, não estavas nesse mundo
Nem em mundo algum
Nem para ninguém
Nem sequer para mim
Porque o templo estava fechado
O vento estava parado
E os malmequeres espalhavam-se num mar sem fim
Por que te procuro, rosto ausente
Por que te busco, sorriso quente
Não sei
Deixarei o templo um dia
Abandonarei as águas em qualquer altura
Quebrarei os anéis em algum momento
E as formas do teu corpo em movimento ficarão paradas
Ausentes
Desfiguradas
No dia em que fechar atrás de mim a porta do templo
Os ventos ignorantes voltarão a ter cor
E ajudar-me-ão a percorrer
As cores de um arco-íris que me espera com asas de ouro pintadas
E então as formas do teu corpo
O teu rosto
O teu sorriso
Serão apenas utopias nos nenúfares desenhadas.

terça-feira, 18 de maio de 2010



LOUCO INSTANTE

Na madrugada em que te despes
No dia em que acaricias o tempo
Na noite em que te transformas
Tudo fica diferente
Fica diferente a alma dos que te observam
Fica diferente o rosto dos que te contemplam
Fica diferente o rosto dos que te tocam
E fico eu diferente, em tudo, porque te pertenço
Sou de ti e não sou teu
Vejo-me em ti e não sou eu
Reconduzo-me até mim e o meu ser desapareceu
Na tarde em que te observas
Na manhã em que te modificas
No tempo em que em ti eu entro
Saio de mim e não me controlo
Solto-me e não me domino
Revolto-me e não me pacifico
Mas em mim mudo
As rugas que marcam a existência
A pele que com a tua se funde
Os olhos que nos teus olhos navegam
Liberto-me e em ti fico
Na hora em que me abandonas
No instante em que já não me beijas
No segundo em que matas as palavras
Fazes-me morrer de boca áspera
Fazes-me vomitar todo o meu passado
Fazes-me saborear todo o teu sexo
Fazes-me sentir o que o tempo permitir
Se o tempo estiver em nós
E se para o tempo conseguirmos sorrir
No momento em que gememos de prazer
No curto espaço de tempo em que encurtamos o tempo
E o fazemos só nosso e de mais ninguém
Conseguimos chegar a todo o lado em simultâneo
Conseguimos abraçar tudo o que é intocável
Conseguimos receber tudo o que do mundo queremos
E na fantasia de um orgasmo
Morremos.