segunda-feira, 3 de maio de 2010

RETRATO

Quando eu era criança
Não havia guerras
Não havia maldade
Havia frutos frescos
Vendidos de porta em porta
E o tempo
Eram os dias
E não tinha qualquer idade
Quando eu era criança
A terra, as flores, os gatos e o sol
Brincavam comigo às escondidas
Na rua, mesmo ao luar
Roubava tempo à vida
Fazia da minha idade uma idade esquecida
Ajudava qualquer pássaro a voar

Cresci
Na juventude conheci a ilusão
Lidei mal com a emoção
Mas vivi
Nem sempre nesse tempo
E nem sempre sentia o bater do coração

Mas,
Ó tempo
Ganhaste asas e aprendeste a voar
Não consigo acompanhar-te
Na rapidez do teu passar
Há saudades dos frutos
Que se vendiam de porta em porta
Dos gatos sempre a brincar
Do voo do pássaro indefeso
Sem ninho


E agora,
Ó vida
Perdeste a infância esquecida
Mataste a juventude iludida
Mas não eliminaste a bela batida

Que sinto no meu coração.

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