domingo, 23 de maio de 2010




OUTRO EU

Fosse eu água, ave ou erva
E todo o meu ser seria eu
Teria a cor do infinito
Libertaria a cor do grito
Que no meu peito ainda não morreu
Seria inconstante, marinheiro
Barco
Povo aventureiro
Onda de um mar aflito
Seria liberdade, movimento
Asa
Canto
Rasgaria os céus
Voaria até aos horizontes
Pararia nas esquinas das fontes
Para me alimentar no caminho
Seria erva daninha, rebelde, insurrecta
E na lezíria seria aventura
Teria a cor mais pura
Que a cor da alma de um poeta
Fosse eu água, ave ou erva
E todo o meu tempo não teria fim
O meu nome seria escrito
Nos céus
Nos mares
Nos canteiros de qualquer jardim
Seria abril
Seria rio
Seria voo fugidio
Seria tudo menos o que sou eu
Fosse eu água, ave ou erva
Teria a vida que desejo
E o sonho que é só meu
Seria azul ou transparente
Mataria sede e raiva
Seria a alma de muita gente
O meu canto seria dança
No bico transportaria a esperança
Aos lugares que desconheço
Cresceria verde
Junto às árvores
Pelas flores teria amizade
Seria tudo o que em mim desconheço
Se fosse água, ave ou erva
Seria eu em liberdade

2 comentários:

  1. ´"Libertaria a cor do grito
    Que no meu peito ainda não morreu"
    É isto espelho de quem viveu aventuras e desventuras..."transparências" duma alma que ainda não pereceu!
    Uma alma assim tem de continuar a dar corpo áquilo que outros sentem...
    Bem haja!

    ResponderEliminar
  2. Adorei este poema. Um grito contido: Lirico e épico; Desejo e esperança. Nostalgico, também: "Seria tudo menos o que sou eu". É o meu preferido. Aliete

    ResponderEliminar