domingo, 9 de maio de 2010

DANÇA DO PASSADO

Tenho sono
Fecham-se-me as pálpebras
Nesta hora de ir dormir já não consigo pensar
Mas resisto
Teimo comigo
Corpo, não te vás deitar
Mas os olhos ficam fechados
E mesmo com os dedos a escrever
Adormeço, já não consigo
Sinto o corpo a adormecer

Mas eis que de repente
Na escuridão do meu olhar
Vejo os fantasmas do passado
Vieram comigo dançar

Trazem-me as cores da minha infância
E o verde da minha saudade
Há neste regresso do tempo
Tempo sem nenhuma maldade
Sinto os cheiros que eram o meu mundo
E a minha letra, ainda perfeita, tão pequena
Viajo no tempo, mas não me afundo
Reencontro a vida serena
Vou contente para a escola
E levo bata branca vestida
Olho a bata e vejo as cores
Com que pinto a minha vida
Beijo a inocência desse viver
Abraço o pescoço da minha mãe
Afago-lhe os cabelos
Beijo-lhe os olhos
Invejo a paciência que ela tem

Cruzo-me com o meu pai
E no azul do seu olhar vejo-me ao espelho, sorrindo
É um azul que deste tempo não sai
Mas esse tempo era lindo

Há ainda uma casa pequena, umas árvores e a vida em flor
Não conhecia a palavra guerra
Conhecia o cheiro do chão, sempre a brincar
Mesmo em silêncio, tristonho

Sou agora eu, outra vez
Mas que importa, consigo sempre voltar
Mesmo que seja num simples sonho

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